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7 sugestões antes de comprar um oxímetro para monitorizar na COVID-19

A tecnologia da oximetria de pulso

O oxímetro de pulso que tem sido referido frequentemente devido à pandemia da COVID-19 foi inventado, em 1972, por um engenheiro japonês da Nihon Kohden. Em alguns doentes com COVID-19 que se apresentam sem dispneia mas com uma hipoxémia significativa, referida como a hipoxémia silenciosa, tem sido sugerido a utilização destes dispositivos médicos, de forma a monitorizar a saturação periférica do oxigénio, como medidor indirecto da pressão parcial de oxigénio arterial, que se encontra diminuído nos casos de hipoxémia.

Os oxímetros de pulso são, habitualmente, utilizados pelos profissionais de saúde para avaliar a saturação periférica de oxigénio arterial. Pelo seu baixo custo, facilidade de utilização e aplicação, bem como a leitura quase instantânea, são considerados como um meio complementar de diagnóstico nas mais variadas patologias.

A oximetria de pulso é um método não-invasivo que nos dá uma estimativa da saturação arterial de oxigénio, ou seja, a percentagem de moléculas de hemoglobina ocupadas (saturadas) pelo oxigénio (SpO2), que, por sua vez, pode estar relacionada com a pressão parcial de oxigênio (PaO2), de acordo com a curva de dissociação da oxihemoglobina.

O sensor que está dentro do oximetro de pulso, consiste em díodos emissores de luz que emitem uma luz vermelha (660 nm) e infravermelha (940 nm), que atravessa o tecido, no local da emissão. Um fotodetector, sensível à luz, localizado no local oposto à emissão da luz, recebe o sinal. A maioria dos sensores funcionam em extremidades, como dedo ou na orelha.

Devido à sua especificidade, não é usual, termos estes dispositivos médicos nas nossas casas, como temos, por exemplo, um termómetro ou um tensiómetro. Nas últimas semanas, a própria Organização Mundial de Saúde recomendou, recentemente, a sua utilização em doentes com COVID-19 e que estão em isolamento em suas casas.

7 recomendações para uma melhor utilização de oxímetros de pulso

No entanto e dado que se trata de um dispositivo médico, devemos ter algumas considerações:

1. Não recorra a aplicações que utilizam a câmara do telemóvel

Não são recomendadas para monitorizar situações fisiopatológicas por não existirem dados concretos sobre a sensibilidade e especificidade das diferentes câmaras que existem no mercado, bem como dos diferentes algoritmos das mais variadas aplicações.

2. Verifique qual o erro estimado previsto para cada modelo

Alguns fabricantes referem, no seu folheto informativo, um factor, definido com a raiz quadrada da diferença entre as médias (raiz do erro quadrático médio) do valor padrão (SaO2) e o valor medido (SpO2). Este indicador permite verificar a exactidão do oxímetro para saturações acima dos 70%. Nos Estados Unidos da América, a Food and Drug Administration (FDA), requer um ARMS, menor ou igual a 3.0. Na imagem em baixo, podemos ver um exemplo em que o ARMS é de 2 dígitos. Na prática, se este oxímetro medir 90% de saturação, poderemos ter valores reais entre 88% e 92%:


Este valor, na maioria dos dispositivos aumenta com a hipoxémia. Ou seja, valores abaixo de 90%, o ARMS vai ser superior.

3. Consulte no site do Infarmed se o oxímetro em questão está registado

Na secção “Pesquisa de Dispositivos Médicos” do Infarmed e pesquisar pelo modelo que pretende adquirir, pode verificar se já se encontra registado pelo respectivo distribuidor. Nesta base de dados estão os dispositivos médicos que cumprem os requisitos legais para serem distribuídos em Portugal. Pode aceder aqui.

4. Despreze os primeiros valores medidos

A atividade física, falar ou rir podem provocar flutuações na pressão parcial de oxigénio alveolar e consequentes flutuações na saturação periférica de oxigénio. É recomendado efectuar as medições em repouso e deixar o sensor estabilizar durante alguns minutos. Observe as várias medições e registe o valor mais frequente.

5. O equilíbrio ácido-base influencia os valores medidos

Numa situação de deterioração da função respiratória, o mecanismo de compensação fisiopatológico no início do declínio da função respiratória consiste numa hiperventilação para compensar a diminuição da pressão parcial de oxigénio arterial (PaO2). Esta hiperventilação condiciona diminuições mais suaves da PaO2 no início da deterioração, logo valores potencialmente ainda normais da saturação periférica de oxigénio (registados com o oxímetro) mas com uma diminuição da PaO2.

6. Verifique a potência do sinal de pulso

Algumas condições patológicas afectam o pulso arterial e podem interferir na capacidade do sensor fazer a correcta leitura dos dados. Escolha um oxímetro que tenha um indicador de potência do sinal de pulso e só tenha em conta os valores medidos com uma potência adequada, de acordo com o manual de cada oxímetro.


Na imagem acima é possível visualizar um exemplo desse indicador. Neste caso consiste num elemento em forma de coração que tem 3 barras de cada um dos lados do coração que indicam (1 a 3) a potência do sinal.

7. Determine limiares de alarme superiores a 80-85% de saturação periférica

Os oxímetros de pulso não medem diretamente a saturação de oxigênio, mas sim, uma taxa de absorbância e, através de um algoritmo, convertem essa taxa medida numa estimativa de saturação arterial.
Os algoritmos dos fabricantes de oxímetros foram concebidos através da observação e experimentação em voluntários saudáveis em que foram medidas taxas de absorbância foram medidas em diferentes condições simuladas de hipóxia e comparado com medições simultâneas da saturação arterial de oxigênio através de gasimetria arterial. De forma a manter a segurança dos voluntários, os cenários simulados consistiam em condições de hipóxia moderada (75–80%). Numa situação abaixo desses valores, o algoritmo do oxímetro realiza uma extrapolação dos dados medidos com base nos valores mais e não por comparação directa com a gasimetria arterial, como é realizada nos testes. Por ser uma extrapolação, a precisão dos oxímetros de pulso pode diminuir significativamente quando a saturação está abaixo de 75% e pode variar significativamente entre os dispositivos, sendo que, a maioria dos fabricantes não demonstra o ARMS para valores de saturação abaixo de 70%.
É muito importante que, na utilização em doentes com COVID-19, o limiar inferior da saturação periférica de oxigénio seja superior a 80-85%.

Em jeito de conclusão, se equacionar a aquisição destes dispositivos médicos, tenha em atenção estes pontos porque podem fazer a diferença em situações reais de hipoxémia.

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